Incontinência fecal

A incontinência fecal é caracterizada pela perda involuntária de gases e fezes, sendo uma condição que impacta consideravelmente a qualidade de vida e pode afetar a capacidade de viver de forma independente.

Embora sua prevalência seja difícil de determinar com exatidão, por ser um assunto delicado que muitas pessoas evitam relatar até mesmo ao médico, estima-se que entre 2% e 7% da população geral convive com esse problema. Esses números sugerem que a incontinência fecal é mais comum do que se imagina.

O mecanismo responsável pela continência e evacuação é complexo, e a variedade de causas que podem levar à incontinência fecal está diretamente ligada a essa complexidade. Entender como esse mecanismo funciona facilita a compreensão dos fatores que podem desencadear essa condição.

Função dos esfíncteres no mecanismo de continência

O ânus é uma estrutura formada por dois sistemas musculares:

  • Esfíncter Anal Interno: composto por musculatura lisa, é um tipo de músculo que não é controlado voluntariamente.
  • Esfíncter Anal Externo: composto por musculatura estriada do assoalho pélvico, esse músculo pode ser controlado conscientemente.

As fezes percorrem todo o intestino grosso sem serem percebidas. Quando chegam ao reto, que é a porção final do intestino, surge a sensação de reto cheio e a vontade de evacuar. Nesse momento, o esfíncter anal interno (involuntário) se relaxa. Para manter o controle, o esfíncter anal externo é contraído voluntariamente.

Se a situação permitir evacuar, o indivíduo relaxa o esfíncter externo e as fezes são eliminadas. Caso não seja um momento adequado, o músculo permanece contraído, fazendo com que as fezes retornem em direção ao reto, inibindo temporariamente o reflexo de evacuação. Nessa fase, o esfíncter interno se fecha novamente, e a vontade de evacuar desaparece por um tempo.

Principais causas da incontinência fecal

Se há alguma alteração no mecanismo de evacuação e continência explicado anteriormente, pode haver perda involuntária das fezes. As três principais causas de incontinência fecal são:

1. Falta de sensibilidade retal

Quando a pessoa não consegue perceber a sensação de reto cheio, torna-se incapaz de identificar a vontade de evacuar a tempo, levando à perda de fezes. As principais condições que causam essa falta de sensibilidade incluem:

  • Lesões na medula espinhal;
  • Doenças neurológicas, como esclerose múltipla, AVCs prévios e doenças desmielinizantes.

2. Fraqueza ou lesões nos músculos do assoalho pélvico

Quando os músculos responsáveis pela continência estão fracos ou lesionados, a capacidade de segurar as fezes é comprometida. As principais causas dessa condição são:

  • Traumas locais, como rupturas musculares durante o parto;
  • Lesões após cirurgias, principalmente hemorroidectomias e fissurectomias;
  • Lesões neurológicas, como traumas na medula espinhal ou neuropatia diabética.

3. Falta de complacência retal

A complacência retal refere-se à capacidade do reto de se expandir para acomodar pequenas quantidades de fezes. Quando essa função é comprometida, mesmo uma mínima quantidade de fezes pode desencadear a necessidade urgente de evacuar. As principais causas incluem:

  • Retocolite ulcerativa;
  • Câncer do reto.

Diagnóstico da incontinência fecal

O diagnóstico da incontinência fecal envolve uma série de etapas para identificar a origem do problema e direcionar o tratamento adequado.

1. História clínica

O processo começa com a história clínica, na qual se determina a dificuldade ou a incapacidade de segurar fezes e gases. A análise da dinâmica em que a perda ocorre permite identificar se a causa está relacionada à musculatura, ao reto ou a questões neurológicas associadas.

2. Exame físico proctológico

Após a avaliação clínica, realiza-se o exame físico proctológico, que consiste na análise do canal anal em consultório. Esse exame pode fornecer informações importantes sobre a integridade e a funcionalidade da musculatura envolvida na continência.

3. Exames complementares

Por fim, podem ser necessários exames complementares para investigar mais profundamente a causa da incontinência fecal. Esses exames ajudam a identificar alterações específicas que guiarão o tratamento mais adequado para cada caso.

Principais exames para diagnóstico da incontinência fecal

O diagnóstico preciso da incontinência fecal depende de uma combinação de exames clínicos e complementares. Os principais e mais importantes exames são:

  • Colonoscopia: permite identificar lesões graves, como câncer de reto, que podem prejudicar a complacência retal e causar incontinência. Também é essencial para diagnosticar doenças inflamatórias intestinais, como a retocolite ulcerativa;
  • Manometria Anorretal: mede as pressões do esfíncter anal durante a contração e o relaxamento, além de avaliar a sensibilidade do reto;
  • Defecografia: avalia possíveis alterações na posição dos órgãos pélvicos durante a evacuação, identificando problemas mecânicos;
  • Ultrassonografia Endoanal: detecta possíveis rupturas nos músculos do esfíncter anal, fornecendo informações essenciais para o diagnóstico.

Tratamento da incontinência fecal

O tratamento varia de acordo com a causa identificada e pode incluir:

  • Tratamento da doença de base: indicado para condições como retocolite ulcerativa ou câncer de reto;
  • Fisioterapia pélvica e biofeedback: recomendados para casos de incoordenação ou fraqueza dos músculos do assoalho pélvico;
  • Cirurgia: em situações que envolvem falhas estruturais, a cirurgia pode corrigir as lesões do esfíncter anal ou reposicionar os órgãos pélvicos. Nos casos mais graves, pode ser necessária a confecção de colostomia — a bolsa que permite a saída das fezes pelo abdômen.

Fatores de risco

É importante estar atento a este problema, especialmente se houver fatores de risco, como:

  • Múltiplas gestações;
  • Histórico de trauma local;
  • Lesões na medula espinhal;
  • Diabetes mellitus;
  • Doenças inflamatórias intestinais;
  • Câncer de reto.

Se os sintomas de incontinência fecal estiverem presentes, é fundamental procurar um médico o quanto antes. Os especialistas mais indicados são o Cirurgião do Aparelho Digestivo e o Coloproctologista.

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